Pedófilos podem discutir no Twitter sobre sua atração por crianças

Em março do ano passado, o Twitter alterou suas normas de conduta na rede, o que outras plataformas, como Instagram, Facebook e Flickr, já fazem esporadicamente. A mudança aconteceu sem alarde, e é possível ver por quê.

“Em 2019, o Twitter silenciosamente mudou seus termos de serviço para permitir discussões sobre ‘atração por menores’ com a condição de que ‘elas não promovam ou exaltem a exploração sexual infantil de forma alguma’. Os especialistas em proteção infantil e prevenção de abusos não foram consultados, porque nunca teríamos endossado essa mudança”, publicou no próprio Twitter o criminologista australiano Michael Salter.

Em uma série de tweets, Salter mostra como a situação é perigosa. “É comprovadamente inseguro promover conversas públicas não monitoradas entre grandes grupos de pedófilos. Os desejos sexuais e a inclusão social deles foram priorizados pelo Twitter em detrimento da segurança das crianças na plataforma ou na comunidade. No ano passado, as redes de pedofilia no Twitter explodiram”, diz ele

A criptografia de ponta-a-ponta, que gradualmente está sendo empregada nos serviços de mensagens (a qual o Facebook já anunciou que o Messenger terá brevemente), é uma maneira de tornar as plataformas seguras para os pedófilos, já que imagens de abuso infantil poderão ser enviadas sem serem detectadas. Segundo levantamento feito pelo jornal New York Times, o WhatsApp, aplicativo do Facebook que criptografa mensagens ponta-a-ponta, fornece à polícia uma fração dos relatórios com denúncias que hoje o Messenger entrega às autoridades.

“Enquanto isso, o chefe de Produto do Twitter comemorou a criptografia do sistema de mensagens diretas da rede social. O que mais o Twitter pode fazer para tornar sua plataforma mais amigável para os pedófilos?”, indignou-se Sauter.

Até o presente momento; a única rede social que possui um mecanismo antipedofilia e que bane pedofilos permanentemente, é a rede social GAB.COM. No entanto, essa rede social por ter uma posição mais conservadora é de livre expressão política, é constantemente alvo de difamação por parte da mídia, de ativistas de esquerda e das grandes empresas de tecnologia da informação.

Escalada sem controle

Segundo estatísticas da Internet Watch Foundation (IWF), órgão de vigilância contra abusos online do Reino Unido, nos últimos 3 anos, 49% dos vídeos, dos links e das imagens achados em mídias sociais, mecanismos de busca e serviços em nuvem se originaram no Twitter: 1.396 casos entre 2.835 incidentes reportados. 

Cada registro, por sua vez, pode representar centenas ou milhares de imagens ou vídeos, já que são, na verdade, links para sites de abuso infantil.

O mais grave: todo o material encontrado pela IWF estava na web aberta, ou seja, os materiais já tinham passado pelos filtros das empresas de tecnologia (incluindo o Twitter) e estavam disponíveis para qualquer um clicar e acessar à vontade. E os números não param de crescer: 742 casos registrados em 2016, 1.016 em 2017 e 1.077 em 2018. Esse fato é ainda mais assustador quando se constata que a IWF não tem acesso a grupos privados do Facebook ou a links trocados no WhatsApp.

John Carr, secretário da Coalizão pela Segurança na Internet no Reino Unido, disse ao jornal inglês The Telegraph que “é assustador e escandaloso que milhares de imagens de abuso de crianças estejam abertamente disponíveis nas mídias sociais e em buscadores para qualquer um ver. A indústria tem que erradicar esse mal de suas bases, e o Twitter, em particular, precisa arrumar sua casa”.

Web aberta supera a deep net em pornografia infantil

Em uma reportagem especial sobre o avanço da pornografia infantil no mundo, o NYT levantou dados assustadores envolvendo as empresas de tecnologia em todo o mundo. Em 2018, elas registraram mais de 45 milhões de fotos e vídeos online de crianças vítimas de abuso sexual, o dobro de 2018.

E a escalada dos números sugere que chegamos a uma situação insustentável: se em 1998 mais de 3 mil denúncias de imagens retratando abuso sexual infantil foram investigadas, em 2000 elas ultrapassaram a barreira dos 100 mil e, em 2014, chegaram a 1 milhão.

Em 2018, foram 18,4 milhões de casos concretos, e esse universo pode ser muito maior: as denúncias incluíram mais de 45 milhões de imagens e vídeos sinalizados como suspeitos de retratar pornografia infantil.

O avanço da criptografia em mensagens faz com que as autoridades corram contra o tempo. O Messenger, sozinho, foi responsável por 12 milhões das 18,4 milhões de denúncias feitas globalmente reportando material pornográfico infantil. E o mais preocupante é que agora pedófilos agem às claras nas redes sociais: os casos investigados na deep net foram apenas uma fração dos abusos reportados. O grosso da atividade vem de empresas americanas de tecnologia.

Uma das mais problemáticas é o Tumblr. Segundo o NYT, uma imagem de um homem abusando de uma criança via oral ficou no ar na rede durante um ano, enquanto a polícia tentava, de todas as maneiras, obter informações da conta — o  investigador se aposentou antes que o Tumblr respondesse.

“A melhor ferramenta desde a câmera Polaroid”

Para o ex-promotor federal americano Hemanshu Nigam, que trabalhou por anos em casos de pedofilia e abuso infantil online, “há mais de 2 décadas, as novas tecnologias criaram a melhor ferramenta para pedófilos desde a câmera Polaroid”.

Essa parece ser a opinião das pessoas que lutam pelo fim da pornografia infantil online. “As empresas sabiam que a casa estava cheia de baratas e ficaram com medo de acender as luzes. Quando fizeram isso, era pior do que elas pensavam”, disse ao NYT o engenheiro Hany Farid, que trabalhou na Microsoft em 2009 desenvolvendo ferramentas para detectar material pornográfico infantil.

“Há mais de 20 anos, as empresas de tecnologia enterram a cabeça na areia quando se trata de pedofilia online. Pedófilos precisam de intervenção precoce, tratamento e apoio à mudança de comportamento. Eles não precisam de um fórum público [no Twitter] para discutir sua atração sexual por crianças”, resume Salter.

Com informações: Tec Mundo

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